Conviver com um adolescente não é fácil. Esta é uma altura em que muitas famílias sentem que passam por verdadeiras “provas de fogo” no que diz respeito à capacidade de adaptação à nova realidade de ter um adolescente em casa.

Não é raro ouvirmos feedback de famílias que sentem dificuldades em lidar com esta fase. Dizem-nos frequentemente que os adolescentes com os quais convivem parecem ter mudado completamente de personalidade: outrora dóceis, outrora amigos, outrora verdadeiros livros abertos, parecem agora seres afastados, isolados no seu mundo e que as famílias não reconhecem como sendo as mesmas pessoas com quem conviviam há algum tempo.

Para melhor saber como lidar com a adolescência de forma saudável, é importante compreender as razões que estão por detrás destas alterações comportamentais.

Antes de mais, convém distinguir puberdade de adolescência, dois termos associados a esta fase e que, embora sejam muitas vezes confundidos, possuem um significado diferente.

Chamamos puberdade ao conjunto de modificações físicas que transformam o corpo, durante a segunda década de vida, capacitando o jovem para a reprodução. A maturação do sistema reprodutor, que ocorre durante a puberdade, traz consigo alterações hormonais importantes. São estas alterações hormonais que esculpem os circuitos neurais durante a adolescência, o que significa que há, nesta altura, uma espécie de reformulação do sistema nervoso.

Relativamente à produção hormonal algo desregulada nesta fase, podemos comparar o corpo humano a uma máquina cuja afinação está a ser realizada. É neste sentido que, tal como a máquina, também o corpo humano não acerta à primeira e precisa de sucessivos ajustes até atingir a performance correta no que diz respeito à produção de hormonas. Ora estes ajustes na produção hormonal estão muitas vezes associados a alterações, visíveis nos comportamentos e temperamento dos jovens.

A adolescência, por seu lado, representa um período psicossocial que se prolonga por vários anos e se caracteriza pela transição entre a infância e a adultícia.

Isto significa que, enquanto a puberdade é física e universal, a adolescência é vivida de forma diferente de cultura para cultura e está muito ligada às características e exigências específicas de cada grupo sociocultural.

Para percebermos o quanto é importante estarmos particularmente atentos nesta fase, vale a pena lembrar o enorme paradoxo representado pela adolescência: trata-se de um dos períodos mais saudáveis da vida do ser humano no que diz respeito à saúde física e, no entanto, nesta altura as taxas de morbilidade e mortalidade aumentam cerca de 200% (são vários os autores que concluíram que, neste período do desenvolvimento, há um aumento significativo das taxas de acidentes, suicídio, homicídio, depressão, abuso de álcool e drogas, HIV, hepatite C, gravidez indesejada, anorexia e bulimia).

De facto, a puberdade tem um efeito organizacional no desenvolvimento do cérebro e no comportamento do adolescente, criando uma base para padrões de comportamento a longo prazo. Infelizmente, nestes padrões de comportamento a longo prazo também se incluem comportamentos problemáticos, bem como a psicopatologia.

Considerando que, atualmente, os níveis de stresse a que o adolescente está sujeito são ampliados pela dificuldade em criar expectativas seguras em relação ao futuro, quer académico, quer profissional (que parecem nem estar garantidas para os que conseguem “níveis académicos de excelência”), o papel dos familiares e círculo envolvente torna-se particularmente importante, fornecendo ao adolescente um fator extra de proteção face aos diferentes stressores. É, por isso, muito importante que enquanto pais e/ou familiares consigamos compreender as dificuldades pelas quais o adolescente está a passar, de modo a conseguirmos representar uma mais-valia no seu crescimento saudável.

Entre os inúmeros estudos realizados com a população adolescente, há alguns dados que parecer surgir de forma recorrente: há práticas parentais que parecem estar associadas aos bons resultados, bem como à prevenção de comportamentos de risco (como o abuso de drogas, por exemplo).

Neste sentido, surgem 3 palavras-chave no que diz respeito à forma como a família vive a adolescência de um dos seus membros: monitorizaçãosuporte e comunicação.

 

Na monitorização incluem-se práticas parentais como:

  • procurar localizar os filhos;
  • estar atento às suas atividades;
  • saber quem são os seus amigos;
  • saber o que eles fazem no tempo livre;
  • Saber como eles gastam o seu dinheiro

Estas medidas estão ligadas ao conhecimento parental sobre os filhos, contudo não devem ser confundidas com uma prática de perseguição que o adolescente sentirá facilmente como uma invasão do seu espaço, mas ser feitas com peso e medida, partilhando com o adolescente quais são as preocupações da família e assumindo como natural a troca de informação.

O suporte dado ao adolescente assume uma importância significativa e está associado a:

  • responder às demandas dos filhos (questões e pedidos);
  • procurar ser presente de uma forma tão construtiva quanto possível, procurando centrar a intervenção mais na procura de soluções que no julgamento;
  • proporcionar um clima emocional que transmita ao adolescente o apoio necessário para a resolução dos problemas vivenciados.

Não será difícil perceber a importância da comunicação com o adolescente, principalmente porque esta componente tem necessariamente de estar presente na forma como se praticam as duas anteriores. Podemos, contudo, referir que o conhecimento sobre as expectativas parentais a respeito do uso de drogas pode funcionar como proteção entre os jovens. Por outras palavras, o facto de o adolescente conhecer as expectativas que a sua família tem em relação a si pode ter uma influência positiva sobre o seu comportamento.

É inegável que, enquanto pais e/ou familiares, temos dificuldade em perceber que a pessoa que ali está diante de nós já não é, de facto, a mesma que ali estava há uns anos (ou, por vezes, há alguns dias), apesar de continuarmos a olhar para ela e a ver a mesma criança que, no fundo, em alguns aspetos, ainda é. Esta é, justamente, uma das razões pelas quais nunca será demais enfatizar a importância das conversas francas em família e da capacidade de empatizar com o jovem nesta fase tão importante.


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